Pedaladas

Pensa na responsa hoje. Dois neguim na rua se contendo pra não assaltar ninguém. Vendo a polícia em vários cantos e fingir um “ainda bem” pra disfarçar um “caralho, vai dar merda”. Eram dois: um sem camisa com cabelo cacheado; o outro com a camisa de botão toda aberta, com cara de muçulmano.

Infelizmente hoje eles tiveram que aproveitar somente o vento na cara, umas ideias trocadas e muitos planos pra vida. Nada de apavorar população, nada de tomar o que é dos outros e nem sussurrar o combinado pra ver quem é a próxima vítima. Dois amigos conversando alto numas bicicletas emprestadas, pedalando 7 km, altas risadas e parceria. Da BM pra Bezerra é chão, chão que o pneu toca e leva.

Os nego tão voando, aposto que você nem viu. As ideias de uma movelaria e o emprego novo na assessoria tão acima do preconceito. Nenhum dos dois, apesar da cara fechada, lembrou das más intenções. Afinal elas já vêm na cor, né? Os dois mais suados que tampa de cuscuzeira param pra água de coco, pra batata chique, pra consertar a corrente da bike, caiu.

E cai também a ficha de que os dois pedalam livres, pobres, amargurados. Cheios de ressentimentos com os episódios recentes da vida, ainda têm tempo de comemorar pequenas coisas. Nenhum baculejo hoje, tinha uns mais suspeitos na rua. E de novo, esses pretos não mataram ninguém.

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