Cada passo dói

Nós temos tanto medo de chegar onde desejamos. Não julgo. Perder pedaços próprios e se recompor no caminho é doloroso, difícil demais. Dói mais quando os dias são frios e não há recompensa calorosa de amor em reciprocidade ao nosso sacrifício.

Uma vez ouvi que a dignidade é nossa única parte que ninguém pode roubar, é verdade. Mas por vezes é preciso abrir mão de um pouco dela, martirizar-se ao pisar no próximo degrau cheio de espinhos. Pode não fazer sentido na teoria, mas quando nos damos conta estamos praticando exatamente essa filosofia.

Apesar do medo, me parece melhor sentir o desprazer da dor e progredir do que suportar a monotonia de estar e ficar. E é evidente que o desejo sobre o lugar onde queremos ir será alimentado de acordo com essa crença. Eu prefiro ir. Nunca entendi os motivos de eu me sentir tão mal a cada despedida. Hoje sei que se perde muito ao cortar uma raiz.

Abandonar um amor, deixar uma casa, sair de um emprego de longa data ou deparar-se com a retirada abrupta de alguém, tudo dói. Por mais que seja necessário um desapego periódico, a dor ainda incomoda para além da razão. Eu sei onde quero estar, mas não tenho certeza do tanto que quero. Estamos errados se temos consciência de que estamos errados?

Eu tenho medo. Nós temos, eu sei. Perdi a conta de quantos pedaços já deixei, mas ainda me incomoda deixar mais. Ainda dói. Cicatrizes não apagam memórias, a ferida ainda está na alma. Não posso te dizer quando estarei pronto. Ninguém é cura, não estamos doentes, só inseguros. Após tanta dor, decepção, frustração e o que mais derivar disso, é justo não sabermos quando ir em frente.

Mas se posso dizer, sei de uma coisa. É natural, é nosso e nunca perderemos isso, carregamos no peito, desde os ancestrais, a vontade de caminhar. Não fomos feitos para parar. E como disse, eu vou. Escolho ir nem que seja um passo de cada vez. Espaçados, fortes e meus.

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